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OPINIÃO: Lembrei do Bamerindus

Apesar da grave crise econômica que o país está atravessando, segundo notícias recentemente veiculadas, o lucro líquido dos quatro maiores bancos do Brasil com ações na bolsa cresceu 17% no 2º trimestre, na comparação com a mesma etapa do ano passado, e somou R$ 16,88 bilhões. Segundo dados da Economatica, trata-se do maior lucro consolidado nominal (sem considerar a inflação) desde o 2º trimestre de 2015.

Na comparação com o 1º trimestre, a soma dos lucros do Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander teve alta de 3,5% no 2º trimestre.

O lucro consolidado de R$ 16,388 bilhões é também o segundo maior em termos nominais da série histórica da base de dados da Economatica, iniciada em 2006, atrás apenas do ganho de R$ 17,34 bilhões do 2º trimestre de 2015.

O denominado "Mercado Financeiro", entretanto, não está com sua voracidade satisfeita. Todo o discurso da política econômica gira em torno de sacrifícios que a população tem que fazer no "altar" do implacável "deus Mercado". Neste conjunto de sacrifícios está a reforma da previdência que aponta para a privatização, proporcionando aos bancos lucros ainda maiores.

A proposta da criação de um novo Regime de Previdência Social, de capitalização, na modalidade de contribuição definida, e proibição de uso de recursos públicos não se trata de complementação da aposentadoria, como já existe hoje. A nova modalidade prevê que cada trabalhador faça sua própria poupança, que será depositada numa conta individual. Ou seja, o valor da aposentadoria dependerá do rendimento que tiver sua conta individual (alguém acredita que os bancos darão um rendimento justo?).

Nos países latino-americanos e do leste europeu já ficou demonstrado que esta experiência aumentou o número de pobres.

Ademais, quem confia nos banqueiros?

Lembro (e os que viveram esta época hão de confirmar) que, no início dos anos 1990, havia uma propaganda do hoje falido Banco Bamerindus que dizia: "o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua uma boa". O Bamerindus quebrou, seus correntistas ficaram com o prejuízo, mas os banqueiros não perderam nada. Trago esta lembrança porque isto me remete à desconfiança com o setor bancário. Já quebraram vários bancos, dentre eles, por exemplo, Banco Nacional, Banco Sulbrasileiro, Banco Habitasul.

O trabalhador que confiar mensalmente, por tanto tempo, uma prestação mensal para poder usufruir uma aposentadoria a determinado banco (se chegar a conquista-la) terá garantia da melhor remuneração de seu capital? Terá certeza que daqui a 35 ou 40 anos, após o tempo passar, o tempo voar, o banco que administrará seu dinheiro continuará numa boa?

No exemplo chileno os trabalhadores são obrigados a depositar 10% do salário por, no mínimo, 20 anos para se aposentar, se completarem a idade mínima exigida. Há 38 anos, o sistema foi implantado e o resultado é que dos que conseguiram se aposentar, os que ganhavam menores salários e teve períodos de desemprego (a maioria) não conseguiram reunir recursos suficientes. Resultado, em torno de 91% dos aposentados chilenos recebem em torno de 50% do salário mínimo daquele país.

O discurso único de que é preciso rever a previdência tal como está, não significa que ela terá de ser feita tal como está sendo proposta, para agradar o capital financeiro. É regra elementar em qualquer jogo: para alguém ganhar é preciso alguém perder. Ao que parece, a reforma é imperativa do "mercado financeiro", ou seja, é o interesse dos bancos que está preponderando e eles querem ganhar. Quem irá perder para eles ganharem?

Não só no Brasil, mas na maioria dos países, os banqueiros detêm as rédeas da política, mas aqui em nosso país os lucros são pornográficos, estão acima dos ganhos obtidos em qualquer outra atividade, graças aos juros cobrados das empresas, dos cidadãos e, principalmente do próprio governo que precisa cada vez mais recursos (tirados da população através da supressão de serviços e aumento de impostos) para pagar a dívida pública financiada pelos banqueiros. Na ânsia de lucrar cada vez mais, estão levando o país a inanição.

Lembrem-se do Bamerindus, um banco pode quebrar, mas nunca o banqueiro, pois o prejuízo é da conta do correntista e do governo, que para não gerar crise maior termina por "tapar o rombo".

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